Ansiedade e estresse em mulheres: como o Yoga pode ser um caminho para a cura.
- Mayara Rosa Gonçalves
- 29 de mai. de 2020
- 5 min de leitura
Atualizado: 7 de fev. de 2022
Ao fazer uma pesquisa sobre Yoga com a minha rede de contatos femininos, recebi a resposta de que aproximadamente 70% destas mulheres sofrem com sintomas de ansiedade e estresse. Destas, em torno de 55% buscam o Yoga como possível alternativa para a cura destes sintomas. E 85% das mulheres que já praticaram Yoga, muitas delas minhas alunas, revelaram que obtiveram resultados significativos para esses quadros, tanto no aspecto psicológico, quanto no físico.
Transtornos de ansiedade são o grupo de transtornos psiquiátricos mais prevalentes no mundo, surgindo ao longo da vida de 28,8% da população.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) as Américas lideram os índices de prevalência de ansiedade e o Brasil ocupa a primeira posição em ranking mundial.
Em 2017, a Secretaria da Previdência Social, fez um levantamento que apontou que enfermidades caracterizadas como transtornos ansiosos ocuparam a 15ª posição dentre os motivos de afastamento de pessoas do ambiente de trabalho.
Esses transtornos incluem, segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais, IV Revisão: transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico, agorafobia, fobia social, transtorno obsessivo-compulsivo, fobias específicas e transtorno de estresse pós-traumático.
Porém apenas há pouco tempo foi observada com cuidado e critério a questão sobre saúde mental feminina. Em 2016 um estudo da Universidade de Cambridge analisou mais de mil artigos e pesquisas sobre ansiedade e depressão publicados desde 1999. E chegaram à conclusão de que: o transtorno de ansiedade é duas vezes mais comum nas mulheres do que nos homens. Este número independe de qualquer outra questão, como a classe social, a etnia e a localização no globo. Além de transtornos de ansiedade o sexo feminino também é mais acometido com distúrbios alimentares e depressão.
Cientificamente, ainda pouco se compreende sobre os porquês das mulheres serem mais afetadas por esses quadros. Algumas pesquisas sugerem que os fatores genéticos, em contraste com os ambientais, podem desempenhar um papel no desenvolvimento de transtornos de ansiedade. Também é possível encontrar dados que sugerem que os hormônios sexuais femininos e seu ciclos podem influenciar este desenvolvimento. Outro fator a ser considerado é o de que estudos publicados mostraram uma diferença entre os gêneros nos fatores absorção, biodisponibilidade e distribuição de medicações psicotrópicas, aquelas que tratam os sintomas da ansiedade, sendo que essa diferença é muito relevante no desenvolvimento de possíveis métodos de tratamento para mulheres com transtornos de ansiedade. E recentemente estudos de neuroimagem sugerem que o córtex cerebral anterior é possivelmente maior e mais ativo entre mulheres, com alta resposta ao medo e a evitação de danos em comparação aos homens com características semelhante o que pode explicar, em parte, a maior suscetibilidade de mulheres aos transtornos de ansiedade.
Porém…
Conhecendo a atual realidade mundial enfrentada pelas pessoas do sexo feminino, sabemos que as causas externas, principalmente em países com alta taxa de violência contra a mulher, como é o caso do Brasil, podem ser as principais causadoras de todo um quadro fisiológico de ansiedade, estresse e depressão.
Alguns dados podem comprovar isso:
A OMS estima que uma em cada cinco mulheres será estuprada ao longo de sua vida.
Das 50 milhões de pessoas que vivem em situações de conflito, 80% são mulheres e crianças.
E as vítimas de violência doméstica, assédio sexual e psicológico nas ruas, dentro de casa, no trabalho e nos transportes públicos também são, em sua maioria, mulheres
Fonte: D’ANGELO,2016.
Também contamos com o cenário profissional, a maternidade e a dupla jornada da mulher. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Economicamente Aplicada) no estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça (2017), as mulheres trabalham 7,5 horas a mais que os homens durante a semana. E ainda mais de 90% das mulheres, afirmam fazer todas as tarefas domésticas, esses dados foram constantes nos últimos 20 anos.
A auto observação, conhecimento dos sintomas e causas, e uma rede de conversa e apoio, são fundamentais para reverter esses números.
Não podemos ignorar essas informações, pois sabemos que no mundo inteiro apenas metade das pessoas que sofrem com problemas de ordem psiquiátrica, buscam ajuda e tratamento. E apenas 2 em cada 5 pessoas que já tem o diagnóstico dão continuidade com os atendimentos psicológicos.
Para auxiliar nessa jornada de cura, podemos optar, em paralelo com o tratamento médico adequado, por tratamento alternativos.
O Yoga é uma filosofia que inclui práticas de autoconhecimento, morais (disciplina) e físicas com o objetivo de atingir a chamada “autorrealização". Hatha Yoga, é o tipo mais popular de yoga no Ocidente, composto por elementos como posturas (asanas), exercícios de respiração (pranayama), relaxamento (yoganidra) e meditação (dharana). E, apesar de o yoga não ser uma terapia, tem sido cada vez mais utilizado com sucesso no tratamento de estresse e ansiedade (Kirkwood, Rampes, Tuffrey, Richardson & Pilkington, 2005).
Para entender como o Yoga produz efeitos no nosso corpo vamos entender como funciona a resposta fisiológica ao estresse e ansiedade.
A principal característica da dos transtornos de ansiedade é a resposta inadequada ao estresse, regulada pelo sistema nervoso.
A resposta ao estresse é a reação química coordenada que acontece em função de estímulos estressores. É caracterizada pela ativação da divisão simpática do sistema nervoso e liberação de cortisol e adrenalina pelas glândulas adrenais. Essas substâncias são responsáveis pela dilatação os vasos sanguíneos, que faz o coração bater mais rápido e prepara os músculos para a ação.
Essas substâncias chegam ao cérebro, onde estimulam a produção de mensageiros químicos (neurotransmissores), que nos deixam em em estado de alerta. É daí que vêm taquicardia, suor, tremedeira, falta de ar, entre outros sintomas que geram o conhecido “mecanismo de luta ou fuga”.
Ao mesmo tempo este mecanismo reduz os níveis de neurotransmissores que produzem a sensação de bem estar.
Quando entramos em um quadro constante de estresse, geramos o estresse crônico, extremamente prejudicial à saúde, responsável por desenvolver doenças como hipertensão e diabetes.
As práticas físicas de Yoga agem diretamente sobre nosso sistema nervoso simpático, reduzindo essa resposta ao estresse, citada acima. Pois reduzem os níveis sanguíneos de cortisol e aumentam os níveis dos neurotransmissores GABA (Ácido gama-aminobutírico), serotonina e dopamina, responsáveis pela sensação de relaxamento, motivação, bom humor e felicidade. Ao reduzir o nível sanguíneo de estresse, também há uma melhora significativa na atividade das nossas células de defesa, as células brancas, fortalecendo o sistema imunológico, prevenindo o surgimento de doenças.
Pesquisadores da Boston University of Medicine e do Hospital McLean descobriram um aumento 27% em níveis de GABA no grupo praticante yoga logo após a prática. Segundo os pesquisadores, o yoga tem se mostrado promissor na melhora dos sintomas associados à depressão, ansiedade e epilepsia.
E segundo Paula R. Pullen, PhD, instrutora de pesquisa da Faculdade de Medicina Marehouse, na Inglaterra: “O yoga equilibra o organismo, o sistema hormonal e a resposta ao estresse. As pessoas tendem a pensar que o yoga está apenas relacionado com a flexibilidade, quando na verdade, no sentido fisiológico se trata mais sobre re-equilibrar e curar o corpo”.
Portanto, precisamos desmistificar o Yoga como sendo uma prática para “pessoas alternativas”, flexíveis, magras ou místicas. Temos nele uma filosofia vasta que pode ser a fonte de cura para inúmeros problemas de saúde física, mental e emocional.
Proponho a cada uma de vocês que leem este texto, experienciar o Yoga na prática, no seu corpo! Sentindo os benefícios e sensações que ele pode te trazer.
E para finalizar, deixo um alerta: este é um caminho sem volta!
Como diz o mestre Yogi, Paramahansa Yogananda: “Um corpo relaxado e calmo é um convite a paz mental.”

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