Maternidade é sobre fazer escolhas
- Mayara Rosa Gonçalves
- 19 de abr. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 7 de fev. de 2022
Hoje, recebi a notícia de que uma amiga não poderia engravidar de forma natural, esse era um dos maiores sonhos dela.
Eu, grávida, 19 semanas, pega de surpresa com a notícia, no dia 4 de janeiro deste ano, 2019. Não havíamos planejado a chegada do Mateus, no primeiro momento foi um susto.
Após essa notícia senti uma imensa gratidão pelo meu pacotinho que veio sem aviso prévio, porém, vieram inúmeros pensamentos sobre a gravidez, os julgamentos sobre esse período, as expectativas e as renúncias.
Sim, as renúncias.
Atualmente, cobra-se das mulheres, e elas se cobram, o melhor desempenho nos inúmeros papéis dentro de uma sociedade: a mulher profissional lutando por seu espaço, a mulher ativista lutando por seus direitos, a mulher dona de uma casa que se desdobra para atender companheiro e filhos, a mulher que se desdobra, mais ainda, para suprir a falta de um companheiro para dividir o cuidado dos filhos, a mulher que paga as contas, que faz a comida, que organiza a própria agenda e a mulher Mãe, porque, diante de tantas mulheres dentro de uma só rotina, cada um desses papéis são intransferíveis
Mas vamos falar hoje sobre a Mulher Mãe.
A pressão e a cobrança que a sociedade e as tradições exercem sobre o papel da mãe faz com que mulheres sejam questionadas sobre Ser mãe, ou questões mais delicadas ainda como: o por que não querem ser mães, ou se sintam menos mulheres por, qualquer que seja o motivo, não poderem ser mães. Faz com que a identidade e os anseios pessoais de cada uma delas, sejam cruelmente desconstruídos e questionados por muitas pessoas e por elas mesmas. Esquecendo que todas temos o direito de fazer escolhas e de abraçar as consequências de cada uma delas, definindo assim seu papel de dirigente da própria vida.
Ao escolher ser mãe existem sim renúncias, não classifico essas como “boas ou ruins”, apenas como escolhas, que devem ser feitas pela maternidade.
E este é um fato que poucas de nós nos damos o direito de compartilhar, quais renúncias fizemos para ser mãe? Como se, ao assumir esse papel, passamos a ser um Ser perfeito, com super poderes e que pode dar conta de toda a demanda de uma vida cheia de atribulações (e ainda sorrir para a foto no Insta).
Assumir o compromisso com outra vida, não traz apenas flores, traz duras batalhas emocionais e mentais, com nós mesmas, posturas que devemos assumir para que o empoderamento dessa mulher-mãe aconteça sem lesar a criação emocional da criança que está por vir.
Acolher esse Ser-mãe em transformação diária é uma tarefa pouco encontrada, não digo apoiar com dicas, palpites e presentes. Digo sobre ser colo, sobre não cobrar, não julgar os medos, a aflição, a tristeza, porque esses sentimentos chegam e não são tão bem recebidos como um sorriso no rosto e a notícia do novo bebê.
Às vezes a notícia vem acompanhada de lágrimas, não por não aceitar ou não amar esse serzinho em formação, apenas pelo fato de que: ao nos descobrirmos mãe, nos desconstruímos, abrimos mão, reformulamos nossos sonhos para caber mais 1 na equação. E destruir para recriar não é uma tarefa fácil, é uma longa jornada de auto observação, diária.
Por isso, companheiras de jornada, sejam fortes e destemidas. Enquanto a sociedade não está pronta para acolher uma nova mãe, acolham-se, deem atenção a vocês mesmas, busquem ajuda na terapia, no grupo de amigos, no Yoga, mas não se escondam.
Não criem um falso papel para parecerem perfeitas, não tenham medo do julgamento, abram-se, compartilhem, podemos estar vivendo as mesmas dores, fechadas cada uma no seu mundo, porque além de todos os medos inerentes a nova fase, a quantidade de escolhas a serem feitas e com elas, o medo da reprovação.
Lembrem-se: temos o direito de ser quem somos, com qualidades, dúvidas e com pontos a serem melhorados (ah sim! eu não acredito em defeitos), estamos criando um ser, recriando uma mulher e co-criando um novo mundo.
À vocês mulheres que não querem ser mães ou por algum motivo não puderam vir a ser mães, transformem-se na sua melhor versão, lembrem-se que para cada escolha feita ou situação a ser vivida, existe uma mulher a ser reconstruída, existe uma nova vida a ser empoderada: a sua!
E não julguem umas às outras, sejam o abraço que falta no meio de milhões de ideias pré concebidas e enraizadas, sejam o colo que foi negado, o ouvido que se negou a ouvir, sejam o Amor, aquele sentimento que quanto mais damos mais podemos dar.
Não precisamos ser iguais umas às outras, não precisamos ter as mesmas escolhas ou renúncias, precisamos de diversidade, somos um quebra cabeça em formação, cada peça é essencial.

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